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sexta-feira, agosto 28, 2009

BlogPoem - Monólogo VIII - Dihelson Mendonça



Monólogo VIII

Dedicado à Luiz C. Salatiel

O Eu, aquele que fala contigo,
não é mais o eu que dentro de mim reside
porque a essência daquilo que me revelo,
não releva a minha própria existência...

Já não sou mais o gigante impune que assombrava
as planícies de um coração morno e terno,
nem tenho as pálpebras cerradas à dor da monotonia

Dias vulgares...
Me tornei íngreme!
Tão terrivelmente íngreme!
Como uma montanha de cacos de vidro
Estilhaçados por tantos sonhos malfadados

Não sei. Não fui.
Não Sou. Serei ?

Ah!
Vida, mar de lama belo... azul e âmbar,
Que me deixou assim, para ser
Tão terrivelmente homem...
...
Tão incrivelmente mortal !



* * *
Agosto/2007

(gravura que ilustra a postagem: imagem do filme:
Goya in Bordeaux - Sony Pictures )

A Fogueira dos nossos Sonhos - Por: Dihelson Mendonça


Acreditei numa Mentira por 25 Anos...


Meus pais me ensinaram grandes valores. Ensinaram-me a ser uma pessoa honesta, batalhar com o suor do meu rosto pelas coisas em que eu acreditava. Meu pai ensinou-me o trabalho, o estudo e o patriotismo. Amar o meu País. Servir à minha Pátria de todas as formas. Foram longos anos de estudo, de luta e de formação de conceitos. Pertenço a uma geração que teve que conviver com soldados no poder, e crer não neles, mas em pelo menos uma coisa que rezava na sua cartilha: A de que o meu país é o meu lar. E de que eu tenho que ser fiel à minha Pátria, honrá-la e respeitá-la. Vivi em tempos de uma ditadura militar, de perigosos anos 70, quando não se podia falar a palavra "comunista" porque poderia ser prêso no Brasil. Já no fim da década, começaram a surgir movimentos para tentar livrar o povo Brasileiro do jugo daqueles a quem todos considerávamos "criminosos", que um dia promoveram o infame AI-5. Surgiu o Partido dos Trabalhadores. Na época, pensei: "Que maravilhoso! Um partido feito por aqueles que trabalham, que realmente constróem o Brasil, que dão o seu suor para sustentar a pátria querida!" . A cada dia, o partido se agigantava e eu me espelhava naquelas pessoas que caminhavam com bandeiras vermelhas, simbolizando o sangue, líamos livros estranhos que falavam em Lenin, Chê Guevara, adorávamos Guevara e tínhamos posters de "Hay que endurecer-se sin perder la Ternura jamás" nas paredes sem mesmo nunca tê-lo visto. Honrávamos as barbas do revolucionário Fidel Castro, dentre tantas coisas. Éramos jovens e puros.

Vieram várias campanhas, dentre as principais, a das "DIRETAS JÁ". Todos juntos, oposição reunida. Lutamos com o coração, ainda que sem pisar como muitos, nos gramados do Congresso Nacional, torcendo debaixo de uma bandeira sob a chuva, que simbolizava o fim de uma era de terror para o Brasil. O Fim de assassinatos, aguardando por "tanta gente que partiu num rabo de foguete", exilados ou auto-exilados por tentar defender as liberdades e garantias individuais do nosso humilhado povo.

E como vibrávamos naquela manhã ! Sentíamos na alma de Brasileiros o doce calor dos novos tempos, dos rostos de cara pintada, dos jovens que éramos, ingênuos, muitas vezes, acreditando e tentando acreditar que nossa pátria estaria finalmente livres de toda a corrupção que nela havia. Veio a morte de Tancredo Neves, que era a esperança para muitos de um Brasil decente. Como nos causou comoção, ver a repórter Glória Maria, em edição extraordinária na TV Globo anunciar que finalmente, Tancredo Neves estava morto!

E ao longo do tempo, os nossos partidos de esquerda ganharam espaço e simpatia no coração do povo Brasileiro. Não de todos. Alguns, surgidos talvez das velhas práticas da antiga ARENA - Aliança renovadora Nacional, se transformaram em PDS, PFL, etc. Esses tais depois pularam de partidos, assumiram a gerência da nação Brasileira, e começamos a ficar desapontados com os novos rumos que o nosso país tomava: Inflação descontrolada, Corrupção descontrolada, escândalos de toda espécie eram comentados nos bastidores, sempre denunciados por nossos partidos de esquerda, como o Partido dos Trabalhadores, o PT, que muito lutamos para que crescesse, ostentando o brasão da ética, da moral e da verdade para o Povo Brasileiro.

Batalhamos muito para que um dia pudéssemos nos livrar das "elites" que dominaram o Brasil desde as já tão longe "diretas já". Após os últimos Presidentes do regime militar, um deles, o João Batista de Figueiredo, que era dado a gostar de cavalos, eram sempre apoiados pela TV Globo, que promovia espetáculos para iludir o povo do Brasil, chegando até a mostrar reportagens sobre cavalos, que o presidente deveria apreciar bastante... Depois, vieram Presidentes estranhos, como SARNEY, ...um cara que usava um topete ridúculo e paquerador, por nome ITAMAR FRANCO, e depois um episódio inédito na política brasileira: Um outro que veio das Alagoas, por nome Collor de Melo, falando de forma enfática, como Hitler, olhando nos olhos, sem titubear, conseguiu nos iludir mais uma vez. O candidato do PT, o nosso Lula, disputou eleição com o Collor, mas perdeu. Entramos pelo cano mais uma vez. Deixamos de acreditar nas "propostas de um trabalhador que veio do Nordeste num pau-de-arara, gente humilde que desde os anos 80 trazia o estandarte da luta contra a corrupção", para acreditarmos na retórica brilhante de um Collor.

Passado algum tempo, vimos que fizemos péssima escolha. O Homem Colorido era um tremendo vigarista. Foi preciso muito esforço e uma campanha de Impeachment envolvendo todo o povo brasileiro para vê-lo saindo pelos fundos do palácio da alvorada num helicóptero, mas ainda assim, de cabeça erguida. Estava fora o caçador de marajás, ele mesmo um dos grandes, que havia oferecido festas nababescas para os seus amigos nas dependências dos palácios de Brasília. Livrávamos naquele instante, de um grande gênio do mal, odiado por todo o povo Brasileiro.

Depois surgiu em cena, um professor. Veio da Sourbone, todo falante, dizia saber muito; Que sabia tirar o país da situação em que se encontrava. O povo Brasileiro, ingênuo, acreditou nos planos mirabolantes desse professor. Só que o professor gostava mesmo era de viajar. Alguns apelidaram-no de Viajando Henrique Cardoso. Este lutou também contra o nosso Lula nas eleições. Assistimos pela TV como desde os anos 80, o Lula mais uma vez disputando, agora bem mais velho, tentando se eleger contra uma "elite podre" que muito dinheiro possuía e que eram "amparados pelas oligarquias de São Paulo" - é o que se dizia. Enquanto isso os trabalhadores faziam piquetes nas portas das fábricas, ostentavam bandeiras vermelhas, gritávamos palavras de órdem, alguns davam seu sangue ( literalmente ), como o Chico Mendes para livrar o País do clima de injustiça e submissão que reinava. Mais uma vez, o mêdo havia vencido a esperança! - "A esperança equilibrista" - na ânsia de que um dia poderíamos ficar livres de vez das muitas mazelas de nosso país. Nossa esperança nessa época, eram os partidos de esquerda, como o PT, o PDT de Leonel Brizola, que era um caudilho, mas que falava com propriedade. Dizia Brizola: "O primeiro ato do meu governo, no dia primeiro, na primeira hora de mandato, é assinar um decreto quebrando o monopólio da Rede Globo de Televisão", empresa criada nos anos 60, com apoio do grupo americano Time/Life e que se prestou a ser o Jornal da Ditadura, mas que após a transição para os governos civis, passou para o outro lado, estando sempre do lado do poder e do dinheiro.

Enfim, o homem da Sourbone e do Neo-Liberalismo, criou coisas aparentemente boas, inventou um tal "Plano Real" que a princípio foi bom, mas depois se mostrou desastroso para o nosso país. Inúmeros escândalos explodiam, e ao final, o Brasil estava pior do que antes, à beira do Caos em todos os sentidos.

Novamente, e imbuídos do mais puro sentimento de patriotismo, voltamos às velhas barricadas daqueles tempos imemoriais, quando em cada eleição, procurávamos trazer aquele que esteve conosco desde os anos 80, falando em todos os meios de comunicação que um governo do PT seria incrivelmente diferente dos anteriores. O nosso "Lulinha" agora estva mais "Paz e Amor". Aquela prepotência, a Arrogância tão características suas, haviam passado, e de cabelo arrumado e paletó engomadinho, se adaptava mais ao perfil que a mídia moderna exigia para uma campanha que pudesse dar certo.

Era talvez a chance de "passar o Brasil a limpo", de ver "se a esperança vencia o medo", de acreditar que pudéssemos nos livrar de toda a roubalheira que sabíamos existir na era FHC de privatizações, que era denunciada pelo Lula e pelos partidos de esquerda.

Vieram as eleições. E novamente, fomos às ruas. Muitos de nós organizaram verdadeiros comitês pela internet, - tempos modernos -, refutando todas as acusações contra nosso líder maior e barbudo. Tínhamos agora acesas em nosso peito aquele restinho de esperanças de ver um Brasil mudado, de ver que num governo de esquerda, não haveria corrupção, pois passamos 20 anos a esperar por esses tais dias.

Eleições concretizadas. Qual não foi a surprêsa para todos os Brasileiros, ao ver que finalmente "A esperança havia vencido o Medo". Lula havia ganho as eleições. Nossos corações vibravam. Éramos um povo feliz. Poderíamos enfim, testar os conceitos daqueles que sempre haviam sido a pedra da vidraça por 25 anos. Poderíamos enfim, por em prática os planos de socialização. A luta pela moralização do país, a luta contra toda a corrupção que existia...mas...


Infelizmente, para nossa imensa decepção enquanto brasileiros, mais uma vez, os nossos guardiães da moralidade, aqueles a quem demos as nossas forças, o nosso suor, o nosso sangue, nos traiu escandalosamente. Começaram a aparecer dados muito concretos de escândalos absurdos, como o Caso Celso Daniel, Escândalo dos Grampos Contra Políticos da Bahia, Operação Anaconda, Escândalo dos Bingos, Expulsão de Políticos do PT, Uso dos Ministros dos Assessores em Campanha Eleitoral de 2004, irregularidades na Bolsa-Escola, Escândalo de Cartões de Crédito Corporativos da Presidência, Escândalo dos Correios, Escândalo da Usina de Itaipu, Caso Daniel Dantas, Escândalo do Mensalão, Escândalo da Quebra do Sigilo Bancário do Caseiro Francenildo, escândalos de corrupção envolvendo ministros no Governo Lula, e muitos e muitos outros. Eram tantos escândalos e até essa data, que são difícieis de enumerar.

Ao ver tudo isso em retrospectiva, vi que fomos enganados por mais de 25 anos acreditando numa lenda. Vi no poder, pessoas em que eu acreditei como sendo os maiores guardiães de um Brasil livre de corrupção cometendo crimes graves contra a nação e ficando na Impunidade. Vi gente como Zé Dirceu acusado de fazer grandes trambiques na sala ao lado do Cacique maior, vi gente como Delúbio na CPI do mensalão mentindo descaradamente, babando e sorrindo, porque sabia que dali sairia uma bela Pizza. Vi Marcos valério e vi muitos outros. Vi gente transportando dólares em Malas e Cuecas. E senti-me triste como brasileiro. Como todos nós que depositamos a esperança num quadro de ética e de moral que era apenas fumaça, mais um engodo para levar gente mesquinha ao poder.

E compreendi que fomos usados e violados no mais profundo senso da vileza humana e deprimente, que é usar-se da boa fé de um povo. Não com meras promessas de uma campanha passageira, como os outros fizeram, mas enganados por um plano ardiloso que já durava 25 anos, sempre nos apresentado como o supra-sumo dos tempos modernos, de um futuro deslumbrante que poderia se descortinar, se colocássemos os partidos de esquerda no poder.

Em nenhum momento deixamos de saber que nos governos anteriores existiu corrupção. Nunca negamos como brasileiros, que essa era a verdade. Nunca deixamos de saber que FHC, Sarney, Collor, Maluf, ACM, não eram homens de todo corretos. Haviam falhas enormes em todos eles. E por essa exata razão é que pensávamos que se elegêssemos aquele que se portou de guardião dos bons princípios que devem nortear a democracia com suas grandes virtudes, pudéssemos reverter todo esse quadro de verdadeira bandalheira que existia e que existe no Brasil.


Mas estávamos errados. Quão profundamente errados! Votamos nos partidos de esquerda como uma espécie de tábua de salvação, de último recurso ao Brasil, e o que ganhamos ? Recebemos o troco pela nossa grande ingenuidade. Estupraram a consciência dos brasileiros com inúmeros escândalos, mais corrupção, e agora mesmo, de forma escancarada. Nem é preciso mais esconder os crimes. Não se precisa nem mais negar. Os homens do poder, podem fazer o que bem quiserem e sair pela porta da frente, sem o menor temor. Negam-se até a depor. Conseguem documentos para isso. Temos um Congresso comprado, loteado, corrupto, que segue as leis de mercado daqueles que pagam mais. Não todos os congressistas, felizmente. Mas as manchetes pipocam todos os dias em TODOS os Jornais do país.

A "esperança equilibrista" que sonhamos para o nosso país, o conjunto de grandes valores morais e éticos ensinados por nossos pais, mais uma vez foram esquecidos. Elegemos aqueles que nos traíram não por uma mera eleição, não por um mandato apenas, mas por toda uma vida. Tiraram dos nossos olhos o brilho da nova esperança para o Brasil. Arrancaram de nossos corações o desejo de lutar e de ainda acreditar que possam existir ainda nesse país homens de boa vontade ( mas sabemos que existem ). Enfim, soterraram sob uma pilha de escombros, os nossos mais sublimes sonhos. Os sonhos de todo um povo de ver gente feliz e soberana, de ver nossas crianças acreditando que nossos ideais de esperança, de honestidade, de educação,, de cultura, e de todas as outras virtudes, seguirão adiante com um futuro certo e de gente limpa. Mancharam e tripudiaram da nossa alma de povo altivo. Cuspiram na nossa honra verde-amarela. Rasgaram a nossa bandeira de luta em troco de mensalões e mensalinhos.


Em que pode o povo Brasileiro HOJE acreditar ?

Em qual político dessa imensa balbúrdia, todos conluiados se pode crer ?
Quando se reuniram num mesmo caldeirão aqueles que passamos a vida lutando contra, tais como Sarney, Collor, Renan, e outros e outros mais... Estão todos aí, estão todos numa boa, estão todos usufruindo do calor da fogueira dos nossos sonhos, do nosso suor, do nosso sangue, e da nossa esperança, que nunca foi de fato concretizada, e que mais uma vez nos trouxe do abismo, aquele que sempre foi de fato o nosso único e eterno "companheiro":



O MEDO !

Todos os Atores desse imenso Circo Reunidos:




"Ri! Coração, Tristíssimo palhaço..."

Por: Dihelson mendonça

Eu Vi Fortaleza - Ensaio Fotográfico


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Fotos: Dihelson Mendonça

Música: Morena Samba - Dihelson Mendonça e Haroldo Ribeiro



Para quem não conhece meu trabalho "popular", e para afugentar o estereótipo de "pianista clássico" que alguns têm sobre mim, aqui está uma música minha, chamada "Morena Samba", em parceria com meu grande amigo Haroldo Ribeiro, e a letra de Sílvia Bezzato, belamente interpretada pela cantora paulistana Anna Canário no seu CD: Brasilização. Como músico popular, minhas influências são principalmente o Tom Jobim, o Edu Lobo, e a turma da corrente maior da Bossanova. Mesmo sendo músico do Cariri, meu trabalho é mais universalista, e a bem da verdade, embora valorize o trabalho dos que fazem, não sou muito afeito em nível puramente pessoal, a que o artista caririense tenha que se obrigar a fazer letras e música que falem em mangas e pequis para ser considerado artista caririense. Assim como o cantor João do Crato sempre se reclama de que também, devido a seu nome, as pessoas pensam que por se chamar João do crato, segundo ele próprio: "é esperado que eu suba no palco com um saco de pequi na cabeça e vestido de boiadeiro"... rs rs. Bem, voltando ao assunto, no álbum encontra-se outra música da minha autoria e do Haroldo, chamada "Seu Olhar". Recebi o link do vídeo recentemente da própria cantora Anna Canário, que foi gravado no Festival de Jazz & Blues de Guaramiranga, e repasso pra vocês.

Abraços,

Dihelson Mendonça
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O AMANHECER - Dedicado a Socorro Moreira



O AMANHECER

( Dedicado a Socorro Moreira )


Flutua no ar por entre grãos de poeira
um tênue e belo halo luminoso
traz nas suas asas o espectro do dia que começa
Alma inda pequena e sorrateira que teima em nascer
e desfaz de forma inexorável a névoa silenciosa
das manhãs...

Minha alma enche-se de perfumes e encantos.
fitos no verde infinito das folhagens
olhos famintos devoram as ondulações das cores
em formas geométricas imprecisas e translúcidas

Do Tecido azul e irregular
gotas brilhantes escorrem
para se desmancharem em poesia
que eu recolho em baldes pelo caminho

Sinfonias de azul e vermelho escarlate
ostentam-se já no horizonte.
Nada falo. Nada penso. Que há para dizer ?
A vida pulula em toda a pradaria
em cada gota de néctar
sem que os homens a percebam

Espetáculo multicor de mundos diversos
habitam minh'alma
e ante tal selvagem beleza, humano já não sou
Na impessoalidade, foge-me o espírito,
e me transporto pelo raio de luz inerte,
apenas descrevendo e perscrutando o universo
- de quem já não vive... -

Dihelson Mendonça
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A MORTE DE CHOPIN - Dihelson Mendonça


Paris, 17 de Outubro de 1849
Na Praça Vendôme número 12
sento-me à cabeceira de um homem esquálido
que aguarda pacientemente...

Pessoas entram e saem do quarto com rapidez
levanto-me um pouco e olho pela fresta da janela
Transeuntes com roupas pomposas, passam sem saber que ali
se consome o corpo de um gênio

Lágrimas escorrem de nossas faces
enquanto alguém toca um de seus noturnos
Seu pálido reflexo sucumbe a cada hora
e nada mais há por fazer

Em dado momento, Delacroix entra quarto adentro,
e conversa conosco sobre o paciente, que mal responde.
Sem querer assistir a hora derradeira,
seguro a sua mão delicada, e beijo a fronte de CHOPIN,
saindo do quarto em direção à rua.

Olho para o céu, para as ruas e contemplo:
"Paris não muda !" - decerto.
Mas o mundo perde um gênio
que como poucos, soube retratar as inefáveis
verdades do espírito humano !
Distancio-me caminhando vagarosamente
e silenciosamente pelas ruas de Paris.

* * *

Do álbum "Caminhos Imaginários"
Dihelson Mendonça
Dedicado a Frederic Chopin
Arte: Chopin, por Delacroix

ASCO - Dihelson Mendonça

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Asco

Talvez não haja afinal, no mundo
lar ideal à minh'alma inquieta
nem cabeças a compreender a fundo
o músico, o cientista e o poeta

De frias notas me alimento
-pesados fardos que carrego insone-
amargos frutos de um sabor intenso
que sorvo vorazmente qual ciclone

Ser pó, e tentar antes, ser homem
em meio à peste de um século podre
abandona-me o coração cheio de ânsia

Pois busco a verdade em lajes frias
para encontrar afinal apenas a antipatia
dos cadáveres do mundo e a sua ignorância

Dihelson Mendonça

Musical Thoughts

"A música de verdade está em toda parte. Ela é a própria vibração do cosmos, e que une tudo e todos. Os livros e a escola representam apenas a codificação do universo musical perceptível, técnico, que pode ser posto em papel ou outra mídia. É o topo do Iceberg, quando a grande imensidão da música não se encontra em papel algum. O músico pleno trabalha com formas abstratas. Tudo pode ser música, resta apenas que aprendamos a conversar e a buscar o universo na sua própria linguagem e perfeição."

Dihelson Mendonça

Pensamento

"O que eu penso, não é importante, mas o que eu sinto. No momento, Goethe, por exemplo, está para além da minha dor-de-cabeça"

Dihelson Mendonça

Pensamentos Musicais


"O grande problema da poesia, é que ela precisa ainda de tradução para a compreensão de outros povos, para outras linguagens igualmente terrenas e impuras, que sempre precisam ser aperfeiçoadas e reinventadas, o que nesse trajeto, sempre haverá perdas. A Música ao contrário, vai direto ao espírito sem tradução, desde o primeiro homem que existiu. Atinge cada ser vivente, até um pássaro, e este compreende com os sentidos. A música carrega já a mensagem na sua forma mais pura que chega ao espírito na sua própria linguagem: A vibração cósmica. Todo o universo vibra em múltiplas frequências, audíveis e inaudíveis. A maior parte da música é inaudível. Mas ela está aí e sente-se com o corpo e com a mente. A música é metafísica!

Como materializar o indizível para um papel ?
Ou melhor, quem precisa mostrar o óbvio ?"

Como já dizia Baudelaire...

Harmonias da Tarde

Voici venir les temps où vibrant sur sa tige
Chaque fleur s’évapore ainsi qu’un encensoir;
Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir;
Valse mélancolique et langoureux vertige!

Chaque fleur s’évapore ainsi qu’un encensoir;
Le violon frémit comme un coeur qu’on afflige;
Valse mélancolique et langoureux vertige!
Le ciel est triste et beau comme un grand reposoir.

Le violon frémit comme un coeur qu’on afflige,
Un coeur tendre qui hait le néant vaste et noir!
Le ciel est triste et beau comme un grand reposoir;
Le soleil s’est noyé dans son sang qui se fige.

Un coeur tendre qui hait le néant vaste et noir,
Du passé lumineux receuille tout vestige!
Le soleil s’est noyé dans son sang qui se fige …
Ton souvenir en moi luit comme un ostensoir!

Dihelson Mendonça

O Velho Olegário está ficando Louco !

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"O Homem que nesta terra miserável vive entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera" Augusto dos Anjos.

Quantas vezes você já deve ter ouvido essa frase...
"Nosso pai está ficando louco! Agora depois de velho, quer vender "NOSSO" patrimônio..." Na verdade, esse problema acontece em muitas famílias Brasileiras. Deixando de lado todos os métodos de escrita elegante e truques literários que eu ainda poderia ter guardado ao longo dos anos, de tal forma que esse artigo seria melhor escrito por pessoas mais aptas, como o nosso querido Dr. José Flávio Vieira... mas enfim, terão de se contentar com minha rudimentar forma de escrita. O importante aqui é a mensagem que pretendo passar.

Seu Olegário

Seu Olegário, ex-bancário experiente, desde cedo lhe ensinaram que nesta terra dura, só se consegue as coisas com muito esforço e sacrifício. Filho de pais pobres, agricultores, sem condições de enviá-lo às melhores escolas, o moleque Olegário, conhecido na roda de amigos pelo singelo apelido de "Gagá", pois sempre foi motivo de risos e piadas, era um desses rapazinhos tímidos, tipicos dessa gente do interior. Sem vintém, Olegário não conseguia as garotas que tanto amava em pensamento. Acalentava porém um defeito que depois se tornou uma obstinação: tinha mania de se apaixonar pela "chefe da torcida", aprendera a apreciar desde cedo os melhores pratos, as garotas mais belas, uma boa roupa, embora não tivesse a mínima condição de possuí-los. Da vida dura de agricultor, entre um prato de arroz com feijão e outro prato de feijão com arroz, Olegário começou a ter idéias de grandeza. Pensou consigo: "Irei para a cidade grande, estudarei e passarei num concurso para o Banco do Brasil"... ( numa época em que ser bancário do banco do Brasil era alguma coisa, render-lhe-ia prestígio, e um bom dinheiro ).

E assim o fêz. Estudou por conta própria em cursos por correspondência, depois arrumou uns empreguinhos mixurucas, e já tendo algum conhecimento, Olegário se lançou na sua missão de ser um bancário. E tão grande era a sua força de vontade, que ele passou logo de cara. Alguns até se perguntaram como aquele rapazinho vindo lá das "brenhas", conseguiu essa proeza, mas Olegário seguia seu curso incólume. Agora, já de gravatinha no banco, pensava nas grandes coisas que as pessoas normais de gravatinha e pasta na mão, normalmente pensam: Em construir uma família, dar uma satisfação à sociedade, ser um homem de bem, cumpridor dos deveres, ser um bom pai, um bom amigo, um bom marido, um cidadão de bem, aquele que planta um livro, escreve uma árvore e constrói uma família regada a todo o conforto que o diuturno trabalho lhe proporcionaria. Tinha porém uma nova filosofia: Não queria que seus amados filhos sofressem das duras agruras porque passara na mocidade.

Na realidade, Olegário, este devoto pai de família trabalharia como uma "Mula de carga", talvez por mais de 40 anos construindo um patrimônio, na esperança de ao final de uma vida cansativa, podusse realizar enfim, aqueles sonhos da juventude, quando sendo um jovem sonhador e besta nas horas de folga na enxada, em pleno sol de Novembro, pensara um dia em conhecer Paris, possuir uma residência num bairro elegante da cidade grande, comprar um carro novo, talvez quem sabe, casar-se com uma esposa carinhosa e ter filhos saudáveis e inteligentes...

...Acontece que a vida é um ciclo estranho!

O mundo dá muitas voltas, e após nosso herói trabalhar por mais de 40 anos, ou mesmo a vida inteira construindo o seu "futuro que nunca chegava", fazendo hora extra pra sustentar o "Luiz cláudio" agora na faculdade, para formar o "Henrique" em engenharia de Produção, ou mesmo a "Melina", garota sempre estravagante que desejava ser marchand em Nova York, vai este homem, outrora moço, sonhador, a encarar uma dura realidade que a maioria dos idosos do Brasil já estão acostumados:

Os maus-tratos por parte da família. A velhice em si, o afastou os amigos, muitos já residindo no cemitério, e Olegário finalmente começa a ver que todo aquele sonho de môço, de um dia conhecer Paris, de viajar pelo mundo, de ter uma velhice calma, está indo por água abaixo. Vê por exemplo, que o filho mais velho "Luiz Cláudio" após formar-se em medicina pela USP, mal o vê durante 3 anos. Apenas um cartão de natal barato chegou recentemente ao velho como prova de "Alta" estima e consideração. Vê, por exemplo, seu filho predileto "Henrique" após todo o sofrimento que o pai teve em bancar a sua universidade, mostrar-se um grande ingrato. Depois de formado, nem mais dá as caras lá pelo velho apartamento do Olegário, comprado em suaves prestações pelo antigo BNH, e já não aparece nem para tomar um café. Vê a sua amada filha Melina, tão bem cuidada na adolescência, frequentadora dos mais caros colégios da capital, hoje mulher distante, lá em Nova York, isolada, e quando muito telefona, ainda é para lhe pedir algum dinheiro extra para um projeto mirabolante do tipo "Agora vai, Pai! é o sonho da minha vida". Lá vai o velho Olegário a gastar as suas economias ainda com filhos...

Até que um dia, chegados os seus mirabolantes 65 anos muito mau vividos, Olegário, no auge da mesmice de uma vida em que passou 30 anos com a bunda pregada na cadeira do banco, resolve ter um infarto sem avisar aos amigos. Suas artérias já não são mais as mesmas afinal. Sua pele enrugada denuncia os muitos maus tratos que a vida lhe ofereceu. Seu reumatismo crônico e aquelas terríveis dores nas costas, devido a uma inconveniente hérnia de disco, o privam de dormir bem, passando a noite a rolar na cama, mudando de posição, para o "desconforto" da sua mulher que sempre reclama. Sua visão já é turva, seus ouvidos já não escutam muito bem, e aquele velho "tínitus" infernal adquirido do barulho no banco, lhe priva das boas audições das suas músicas prediletas.

O velho Olegário então, no auge deste conjunto de coisas, resolve tomar uma decisão radical. Pensa consigo mesmo: "Meus filhos já estão crescidos. Todos já estão casados, já os formei, forneci a cada um meios de sobrevivência própria, já construíram até suas famílias. O que devo fazer, agora que a velhice me atormenta ? Já sei! Vou aproveitar os últimos dias que me restam e desfrutar do trabalho de uma vida, em que sustentei essa cambada de filhos ingratos, que como passarinhos, só precisaram de mim com o biquinho aberto para receber. Vou vender a casa da Praia, que só me dá prejuízo na manutenção e quase nunca se vai até lá. Vou vender a casa da Serra, pois não nos serve mais, já que moramos nesse apartamento no centro para minhas sessões de fisioterapia e estar mais próximo das clínicas de atendimento de urgência. Vou vender tudo que não me é útil, POIS COMPREI COM O SUOR DO MEU TRABALHO, e vou enfim, antes de morrer, realizar meus antigos sonhos de juventude: Vou conhecer Paris, vou viajar, vou aproveitar meus últimos dias na terra com dignidade e fartura.

Comunicada a sua decisão à família, Seu Olegário é tradado com total desprêzo, desdém e desconfiança:

"Gente... Nosso Pai está ficando louco! Pirou de vêz! ele quer tirar "NOSSA" herança, e gastar em "Futilidades" como viagens a Paris. Papai tá louco...
Henrique, o mais velho diz:
"Pai, que idéia de jerico é essa, de viajar para a Europa? falta algum dinheiro para o senhor comprar seus remédios para o coração, falta ? "
Já outro diz:
"Nosso pai a esta altura, só pode estar com o Mal de Alzheimer. Essas idéias são absurdas. Acho bom internar papai numa clínica, gente!"
A filha mais nova diz:
"Mas não podemos internar papai na clínica até ele assinar os documentos nos passando TODO o patrimônio. Afinal, essa é nossa herança e iremos lutar por ela..."

O velho Olegário ainda tenta se defender:

-- Essas coisas todas são minhas! Eu construí com o suor do meu rosto. Posso vender na hora em que bem entender. Quanto de vocês está investido nisso aqui ? Aonde vocês estavam quando eu ralava no caixa do Banco pra sustentar os estudos de vocês nos melhores colégios?"

-- Papai, o senhor precisa de repouso. Olha, cuidado com o Infarto! Já pensou se o Senhor está lá na Europa e tem um infarto em pleno champs elysees ?

-- Eu morreria tranquilo. Bem melhor do que estar perto de sanguessugas como vocês, que passaram a vida sugando do meu trabalho.

Passados alguns dias, a família secretamente, decide em reunião:

-- Olha, gente, o momento de agir é agora! Papai demonstrou claramente que agora no fim da vida está com umas idéias mirabolantes. Quer viajar, quer vender nosso patrimônio... e quem vai cuidar dele?

Todos se entreolham. Um diz:

-- Eu não posso! já tenho coisas demais para tratar.
Outra ainda acrescenta:
-- Eu também não posso. Preciso estar em Nova York na segunda-feira para concluir um grande negócio.

Passados os dias, chega uma ambulância com homens fortes, todos de branco à porta:
-- Viemos pegar o Senhor Olegário!
O velho Olegário ainda tenta fugir, mas é impedido por uma ampola braba de Sossega-Leão.

Hoje em dia, o velho Olegário, que passou a vida lutando para criar seus filhos, tornou-se refém deles. Vive numa clínica para idosos, internado, jogando baralho e relembrando seus antigos sonhos de juventude. Nada de Paris, nada de viagens, nada de viver a plenitude da vida. Agora, sua rotina é olhar pela janela esperando o fim dos dias. Uma rara visita de um dos filhos que lhe trouxe de Paris uma torre Eiffel de alumínio, brinde de uma grande compra de roupas em uma loja. Já outro filho, vez por outra lhe visita, e traz os filhos para conhecer o vovô Olegário. Um dos netos fala para o irmão "Cuidado com o vovô, não toca nele. Ele é doido!"

E o agora vovô Olegário passa os últimos dias olhando pela janela, até que numa bela tarde de Abril, sem avisar, vem a visita da "mais indesejada das gentes", a morte lhe toma os últimos soluços neste mundo. Morre o velho Olegário, e é sepultado. Os filhos...

Ah! os Filhos... estes não puderam comparecer. Estavam muito ocupados...
...para um simples entêrro.


Por: Dihelson Mendonça.

Poetas, Pássaros da Noite...



"Carpem nas sombras pássaros ascetas; Cantam poetas, pássaros da noite..."

"Poetas são pássaros disfarçados de pessoas! Eles moram nos galhos das árvores mais altas, donde podem tocar todo o céu com a ponta dos dedos, e apanhar um punhado de estrelas que atiram aos pés dos homens, velando a sua existência, e dando-lhes música em forma de sonhos."

Abraços,
...e Boa Noite...

Dihelson Mendonça

EFÍGIE


EFÍGIE

Dedicado a Correinha


Pela espinha dorsal do tempo
Vejo hoje o homem interior que sou
E brigo com uma realidade fantástica
Daquele que, nas tênebras, vê a própria morte no ar!

Os olhos fitos através do teto,
Um gosto aziago já se faz na garganta,
O cheiro da terra parece bem mais perto,
E toda a natureza testemunha no esplendor da tarde.

Verdes folhas a crepitar no amarelo
reluzente do ouro, e o azul sereno do céu
a tecer o meu futuro breve
-- esta será minha última noite! --

E então serei arrastado pelas mesmas pessoas
Há quem entoe para mim as ladainhas
Proximo a um corpo inerte
Pois sei que meu caixão já está encomendado...

Tambem meu corpo assim padece,
Que mais há de fazer nesta terra miserável ?
Debalde verti a mocidade em sensações efêmeras
E consumi a velhice em lágrimas de arrependimento !

Amanhã, pois, serei um.
Apenas mais um.
Um corpo fétido a poluir o cemitério
Hoje, valorizo a sepultura
A passar antes de mim vi muitos, hoje é meu dia
...e de meus companheiros de morte.
...
Nada mais há para dizer !
A tristeza jaz no ar convulso.
A noite se aproxima...
A hora derradeira se aproxima...

Afinal, que mal há em ser apenas uma lápide ?
Mais uma lápide ?
E me contentarei em ser inerte como o mármore.
E serei recompensado pela paz dos cemitérios

Que diferença jaz entre o momento atual e a hora
em que hei de passar ?
Que diferença há entre o teu e o meu momento
em que escrevi essas linhas ?
Sob um prisma de visão, o ontem é o hoje, e
o hoje, o amanhã. Se hoje, portanto morri para uma vida,
Amanhã ressucitarei para ser eterno dentro de um poema ?
...por um breve momento apenas...
...por um breve momento... e nada mais !


Dihelson Mendonça

PESARES - Dihelson Mendonça



PESARES

( Dedicado a meu amigo e poeta Antonio Sávio )

Apesar de tudo, dos sentidos que aguçamos
como o limar de uma grande rocha sem fim
permanece inda o opaco brilho sobre os olhos
cravados em nuvens e paisagens dentro de mim

Sobre a gleba insana rastejam as borboletas
de vaidade pura nas asas,- pobres delírantes -
voam também por sobre as nuvens, elefantes
...pois nada mudou, nem manterão tais silhuetas

Não ao mesmo sol a vazar sobre as arestas
das frestas podres e de fendas à minha porta
corta a faca, corta o tédio, corta a testa
corta a planície, cortam serras sotopostas

Viver das migalhas de uma realidade
que ora me escapa por entre os dedos rotos
rastejar-me de medo, - infelicidade -
carregado de segredos em mundo ignoto

Da plenitude bela de uma vida instante
à abjeta dualidade residente dentro de mim
passam-se os dias, passam-se os meses, passam-se os anos
em mares de tristeza eterna... e que já não têm mais fim!


Dihelson Mendonça

( basedo no poema Pesares de Antonio Sávio ).

O Apagador de Monturos

.
As mãos que tocam uma Sonata de Chopin
hoje empunharam um balde
Mãos que antes estudavam 10 horas por dia
hoje ficaram cheias de calos tentando apagar fogo
- de monturo - dos idiotas da cidade.
As mãos que hora após hora buscavam
a independência dos dedos
Hoje empunharam uma pá
Os olhos e ouvidos para uma partitura
hoje se encheram de fumaça
e os pulmões que antes respiravam música
hoje se intoxicaram de lixo
...
Mas as mãos que apertam teclas,
tambem sabem apertar gatilhos
Mãos que seguram bebês
Também sabem estrangular os canalhas do mundo
Bocas que entoam cânticos de paz
Também sabem bradar a guerra quando necessário
E olhos que contemplam a natureza
Também sabem denunciar,
E as mesmas mãos que salvam vidas
Também são capazes de afundar o crânio das larvas
As mãos que afagam os cabelos da amada
também sabem destruir
E as mãos que seguram hoje baldes para apagar o fogo
Também podem tocar fogo nesta cidade imbecil
Como Nero fez em Roma !

Dihelson Mendonça

Poema Pomposo Para o Policial Nijair Pinto




[ Dedicado ao poeta Nijair Pinto ]
- Poema pra ler com a boca cheia de farofa -


Nijair Pinto, pomposo poeta, pinta pitorescas paisagens
cheias de Pintassilgos piantes em poemas palacianos

Passando perto desses pássaros
paro pra pensar nas parcas
possibilidades destes pobres pintassilgos
poderem parir outros tantos pintos como Nijair assim os pinta

Pode acaso o peito patriota do poeta
apontar poemas cuja plumagem pareçam pássaros pintos ?
Podem as pedras parirem pães ?
Pode acaso do porto prisoneiro
o navio pesqueiro aportar perene em positivas peripécias ?

Decerto que não!
Do impoluto peito do policial
que puxa da pistola na periferia
ao permissível perímetro pulsante do planeta,
postam também nos pútrefos papiros,
os pianistas as suas partituras poéticas,
a privar o povo do processo precário de nunca poder pautar
a sua própria pompa nos preciosos pátios
das primaveras prateadas de Paris...

Por isso pinto o Nijair à minha própria maneira e partitura,
pontilhando pingos de tinta preta que respingam
aqui e acolá no papel pautado podre

Procurando poder pensar sempre
que no poder das palavras permanente
passam os sonhos do pássaro mais extinto
é que os pobres pintassilgos ainda piam
enquanto nas noites plúmbeas, rodopiam
na pluma e na pena... do Nijair Pinto


Por: Dihelson Mendonça
( Acho que a fumaça do lixo me intoxicou )

Um Poeta Dihelzepínico



UM POETA DIAZEPÍNICO

( Dedicado a José do Vale )


Sou o poeta mais diazepínico que conheço
Meu lexotan vem antes do muro de berlim
e todo mês em fila eterna eu permaneço
buscando um papel azul a prorrogar meu fim

Já nem sei mais quem mais escreve,
se eu mesmo ou o Bromazepam na veia
na calma dos eucaliptos uma semibreve
é a mais rápida aranha a tecer sua teia

Mas sei que não sou ainda um viciado
decerto, do mal liberto-me preciso
em que assim o desejar, hei declarado

Em correntes infernais, como a um louco
prenderam-me a um arcabouço de um sorriso
Para que em pequenas doses, morra pouco a pouco!


Dihelson Mendonça

Gênios da Música Moderna - Herbie Hancock


"Só há um Herbie Hancock no mundo. O resto é imitação da coisa real"

Chick Corea - 1979

Esta é uma pequena homenagem a um dos criadores da música eletrônica moderna. Praticamente, o inventor do Fusion, que é a mistura do Rock com o Jazz! É até desnecessário frisar a importância de Herbie Hancock no panorama da música moderna ocidental. Herbie conseguiu alterar a história da música, e influenciar não só a sua geração, como formou escola, e em praticamente todos os países do mundo, músicos de diversas correntes e estilos musicais o têm na conta de Ídolo. Tanto pelas inovações no Jazz/Rock introduzidas já na banda do Miles Davis, que o descobriu, seja nos seus trabalhos solos, em que juntamente com Miles, firmou o gênero Fusion, que serve até hoje de substrato para todas as grandes produções musicais eletroacústicas de vanguarda.

Nesse vídeo de 1975, Herbie Hancock, improvisa em uma de suas mais conhecidas composições, Cameleon, e já demonstra idéias musicais melódicas e acordes de substituição que só viriam a ser absorvidas por outros, décadas depois. Aliás, diga-se de passagem, Herbie foi talvez o primeiro a compor uma música baseado em Harmonia quartal, bastante conhecida, chamada "Mayden Voyage". E seja no piano elétrico, como no acústico, está sempre inovando e seus trabalhos estão anos-luz de distância. Geralmente incompreendido mesmo pela crítica especializada, seus trabalhos só conseguem ser melhor apreciados, às vezes anos depois de ter sido realizados. Seu "swing" e toque balançado se tornaram uma marca registrada.

"Não é que o som do Herbie parece com a música dos anos 70 e final dos 60. O som da década de 70, com a black music, o balanço, o uso de sintetizadores, é que veio com o Herbie Hancock. Depois, o mundo simplesmente o seguiu! "

Dihelson Mendonça

Herbie Hancock

Herbert Jeffrey Hancock nasceu a 12 de abril de 1940 e começou a tocar piano com sete anos; logo se tornou um prodígio, ao solar o primeiro movimento do concerto de piano de Mozart com a Sinfônica de Chicago aos 11 anos. Depois de estudar na Faculdade de Grinnell, Hancock foi convidado por Donald Byrd em 1961 para integrar o seu grupo em New York; logo em seguida a Blue Note lhe ofereceu um contrato para gravar o seu primeiro álbum "Takin Off".

Em maio de 1963, Miles Davis o convidou para participar de seu quinteto e por lá ficou durante cinco anos, tempo esse em que absorveu as influências do mestre, deixando o piano acústico e aderindo ao piano elétrico Rhodes. Ao mesmo tempo, sua carreira solo continuava na Blue Note, criando composições sofisticadas para os álbuns "Maiden Voyage", "Cantaloupe Island", "Goodbye to Childhood" e o primoroso "Speak like Child". Ele também gravou em muitas sessões produzidas por Creed Taylor e elaborou sua primeira trilha sonora para o filme "Blow Up" de Antonioni.


Tendo deixado a banda de Davis em 1968, Hancock gravou o álbum funk, "Fat Albert Rotunda" e em 1969 formou o sexteto Headhanters, grupo de jazz-rock que utilizava desde o sintetizador de Patrick Gleeson até os seus Echoplexed, piano elétrico e clavinet, instrumentos que tornaram as gravações mais espaciais e ritmicamente mais complexas, criando um espaço bem personalizado na vanguarda musical. No grupo, todos os nomes dos músicos foram vertidos do inglês para o africano (Herbie era Mwandishi). Em 1973 Hancock se separou da banda e passou a estudar o budismo, tendo como meta final tornar as platéias mais felizes. Hancock gravou vários álbuns eletrônicos com qualidade superior nos anos setenta, mas se recusou a abandonar o jazz acústico. Depois de uma reunião, os ex-integrantes do Miles Davis Quintet (Hancock, Ron Carter, Tony Williams, Wayne Shorter, com Freddie Hubbard no lugar de Miles) se apresentaram em 1976 no Newport Jazz Festival de New York. No ano seguinte eles excursionaram com o nome de V.S.O.P.

O grupo continuou se apresentando esporadicamente até 1992 e depois da morte de Williams em 1997 não existe mais nenhuma possibilidade de um novo retorno. Hancock continuou seu estilo camaleônico nos anos oitenta: lançou na MTV em 1983 um single "Rockit" (acompanhado por um vídeo notável); lançou em 1986 ao vivo o álbum "Jazz Africa" com o virtuoso músico gambiano Foday Musa Suso; montou diversas trilhas sonoras, entre elas a de "Round Midnight" com a qual ganhou o Oscar; e tocou em festivais e excursões com os irmãos Marsalis, George Benson, Michael Brecker e muitos outros. Depois do álbum tecno-pop de 1988, "Perfect Machine", Hancock deixou a Columbia e assinou um contrato com a Qwest onde fez somente "A Tribute to Miles" em 1992. E finalmente, assinou com a PolyGram em 1994 para gravar jazz pela Verve e álbuns pop pela Mercury. A curiosidade, versatilidade, e capacidade de Hancock continua crescente, sem nenhum sinal de fraqueza, como atesta o Grammy conquistado em 1998.












Discografia:

1962 Takin Off Blue Note
1963 Inventions and Dimensions Blue Note
1963 My Point of View Blue Note
1965 Maiden Voyage Blue Note
1968 Speak Like a Child Blue Note
1969 Fat Albert Rotunda WEA
1970 Mwandishi WEA
1973 Head Hunters Sony
1977 V.S.O.P.: The Quintet Sony
1981 Quartet Columbia
1986 Jazz Africa (live) Columbia
1993 An Evening With Herbie Hancock and Chick Corea Columbia
1995 New Standard Polygram
1998 Gershwin World Columbia
2002 The Herbie Hancock Box Columbia/Legacy

Fontes: Biografia - Clube do Jazz
Capas e fotos: website oficial: www.herbiehancock.com
Aprenda mais sobre Jazz e Música Instrumental Brasileira. Visite www.portaldojazz.com

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O Natal de um Poeta Louco - Por: Dihelson Mendonça


O Natal de um Poeta Louco - Por: Dihelson Mendonça

[ Dedicado a Wilson Bernardo ]

Pediram-me para dizer algumas palavras belas sobre o natal...
Que posso eu dizer de belo diante de tantos milagres literários traçados por meus compatriotas?
Posso eu acrescentar algo de novo que alguém muito mais genial já não o tenha dito de forma infinitamente e inescrupulosamente superior ? Que fábula poderia eu ainda inventar para tentar mascarar a profunda dor que esses dias finais de ano me trazem ?
Serei assim tão máquina a ponto de não saber desejar um mísero Feliz Natal a alguém ?

Não serão pinheiros natalinos cheios de bolinhas vermelhas, nem a visão de um velho maluco vestido de rubro ( e que nunca nos traz presentes ), que irão aquecer este velho coração desencorajado por tantas incertezas!

Mas pediram-me para ser alegre no discurso!
Pediram-me para falar de esperanças. De dias melhores, de um mundo melhor.

Penso em quantos sonhos malfadados ainda terão que ser massacrados pela dor da realidade e por homens tão mesquinhos. Projetos que salvariam vidas, que curariam doenças, que trariam a verdadeira paz para a humanidade, que mudariam incrivelmente a paisagem do planeta. Meu sorriso de canto de boca já começava a se abrir, e logo penso nas criancinhas que deus esqueceu lá na África, sem presentes e sem comida. E Penso na possibilidade de um deus que necessita ser constantemente adorado e louvado pelos séculos dos séculos sem nunca saciar a sua própria fome de adoração.

Mas pediram-me para ser alegre!

Daí penso nas infinitas possibilidades daqueles que tendo a crença mais profunda, jazem hoje em largas covas a poluir os cemitérios. Nada há que ressucite o homem que não o próprio homem. E nem que prive o ser pensante de uma morte inexorável e sobretudo, lenta. Falam-me de justiça. Esta me é falha em todos os sentidos. Olho para a rua e vejo crianças a apedrejarem um gato até a morte. Reflexos de uma infância feliz e memorável de ensinamentos. Justiça divina: E vejo homens bons sendo torturados por atrozes catástrofes, e os maus cavalgando na sua leviandade. Reverenciam um suposto homem que supostamente teria sido um suposto deus que supostamente se materializou em forma humana para redimir toda a raça humana de supostos crimes supostamente considerados divinos e que supostamente ressucitou e os salvou.

Acreditam em um pai torturador que estabelece 10 coisas que se você não as fizer, ele te joga em um poço de fogo e enxofre onde haverá choro e ranger de dentes, para os séculos dos séculos, para ser torturado, queimado, destruído eternamente se não se dobrar aos seus joelhos...MAS ELE TE AMA! Ele te ama e precisa do teu dinheiro: homens nomearam-se para recolher os tesouros de deus com cartão de crédito, data do vencimento e contas bancárias para o reino dos céus! Mas é Natal - tempo de Dar e Receber !

Pediram-me para ser alegre!

Pediram-me também para falar das coisas belas da vida.
E eu falo do fim de ano, fim de existência, fim dos tempos.
Fim de tudo, tempo de ser hipócrita como nunca fui durante todo o ano, apertando a mão de quem não conheço, desejando feliz ano novo aos meus inimigos, e fingindo alegria nos olhos, quando meu coração chora convulsivamente durante as explosões de ano novo.

Menos um ano de vida!
Menos caminhos, menos horas deleitosas. Estraguei minha juventude e consumi a velhice em lágrimas de arrependimento. Sou mais mortal a cada ano que passa. Quem dera fosse um "João Grilo" ? Mas nesse ano morri também de todas as formas possíveis. E cada vez mais, ainda que involuntariamente, desejo ser o que sempre fui: O espectro do que sempre pensei ser. Pensando que sou quem não desejo ser, me consumo em um sonho que alimentou minha alma. Já nem sei quais são meus pensamentos diante de tantos outros que afloram à minha cabeça. Serão meus de fato ? Quantas cópias de mim tingem a minha consciência para aterrorizar-me neste canto de noite, neste canto de quarto minguante ? Antes fosse a mera imaginação a criar monstros de pedra. Mas agora, eles são todos meus e reais! Mas é Natal, posso pelo menos pedir que dinossauros não me atormentem...

Todo fim é triste, e o homem tem apenas o fim, nunca o comêço!
Vejo tantos quantos a dançar a dança das virtudes sobre uma tábua a 8000 metros acima do solo sem saber do abismo que os circunda. Loucura ? talvez não. A vida jaz nesses pequenos arroubos de loucura, para aqueles que são mentalmente sadios. Vivamos pois, na loucura de um sonho que nos embala, antes que acordemos. Antes que nos demos conta de que nossa viagem de carrossel chegou ao fim, já que muitos de nós não estarão a girar no mesmo carrossel no ano seguinte ( possivelmente eu também ), o que não significa absolutamente nada diante do todo.

Quão bom é ser alegre! Crer numa feliz existência após a morte. Tento me enganar com a mais ferrenha das crenças, mas meu coração já não é de um simples. Já não sou talvez digno de sentar-me à mesa dos meus semelhantes tão puros, e contemplar a face de deus frente a frente. Eu lhe ensinaria verdades que ele próprio desconhece! E assim, enquanto passa a turba louca, em meio a alegria insana, eu mero espectro a observar, como um vulcano prêso à lógica fria, sem alegrias, nem tristeza. Sem Natal e nem porvir. Pois tudo não é mais que uma mera ilusão que pintamos de verde, vermelho e de roupas belas para comemorar o drama de nossa própria loucura!

Mas, pediram-me que eu fosse alegre:
Feliz Loucura! Feliz Ano que Passou !

Dihelson Mendonça