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quarta-feira, novembro 09, 2011

A Porta do Desconhecido - Dihelson Mendonça


MONSTROS NÃO EXISTEM !



Era uma vez um grande reino, cujo soberano era famoso pela forma peculiar e impiedosa de tratar seus inimigos; A estes, após prender durante meses nas masmorras do seu suntuoso castelo, mandava buscá-los para uma sessão de tortura física e psicológica, quando mostrava então ao prisioneiro duas possibilidades:

"Se queres, podes escolher. Do meu lado esquerdo está essa fila de arqueiros, que te flecharão, e morrerás instantaneamente. Do meu lado direito está essa imensa porta e ninguém sabe que tipo de coisa tu poderás enfrentar lá. Apenas eu sei."

Todos escolhiam ser mortos pelos arqueiros, com mêdo do que poderia existir por detrás daquela imensa e tenebrosa porta. Afinal, que tipo de monstros tão pavorosos encontrariam ? Quão enormes seriam as dores e sofrimentos ?

Passados alguns anos, o reino entrou num período de paz, quando o vizir perguntou ao Rei:

"Afinal, meu senhor, o que há por detrás daquela porta que todos temiam ?"
O rei lhe respondeu: "Abre, e vê com teus próprios olhos."

O vizir, tomado de medo, começou a abrir aos poucos a imensa porta, quando raios de luz começaram a entrar, percebendo que esta dava para um lindo e imenso jardim.

O rei então lhe disse:

"Por todos esses anos, eu os ofereci duas chances: A de serem mortos e a de enfrentar o desconhecido. Todo o tempo, lhes ofereci a possibilidade da liberdade, mas eles, com mêdo, preferiram ser mortos pelos arqueiros."

Quantas vezes nos defrontamos com imensas portas do desconhecido, e por medo de monstros imaginários, preferimos ir por caminhos já percorridos ? Afinal, monstros e bestas-feras só existem na imaginação dos fracos de espírito. Os dois maiores monstros que podemos encontrar em nosso caminho, são apenas o mêdo e a ignorância.

Dihelson Mendonça
04/07/2008

domingo, novembro 06, 2011

Benito di Paula - O homem que trouxe "de volta" o Piano ao Samba

"Mas chegou o carnaval
e ela não desfilou
eu chorei, na avenida eu chorei
não pensei que mentia
a cabrocha que eu tanto amei"

NE - Ele certamente não foi, como alguns pensam, o homem que levou o piano para o samba, pois décadas antes, outros não menos ilustres como Johnny Alf, Dick Farney, ou mesmo Tom Jobim já o haviam feito. Mas em se falando do samba popular, à maneira de um Martinho da Vila, Clara Nunes e Beth Carvalho, podemos dizer que o Benito di Paula trouxe inovações na maneira de tocar, além de um estilo muito peculiar nas suas composições. Adicione-se a isso uma voz afinadíssima, repertório próprio, voz inconfundível e um estilo irreverente, vestindo-se como um "Chacrinha", com roupas espalhafatosas, quase em tom de deboche ao estilo erudito, que influcenciou décadas depois pessoas como Eduardo Dussek.

O "osso duro de roer", garoto levado e talentoso está de volta com um belo DVD, que traz muitas das suas grandes composições. Trago algumas faixas mais conhecidas do grande público. Mas antes uma pergunta: Quem é afinal, Benito di Paula ?




Benito di Paula, nascido Uday Veloso (Nova Friburgo, 28 de novembro de 1941) é um pianista, cantor e compositor brasileiro.

Uday Veloso ganhou fama nacional com o pseudônimo de Benito Di Paula. Nascido em 1941, em Nova Friburgo, RJ, é um dos grandes nomes da canção nacional dos anos 70. Foi crooner de boates do Rio de Janeiro, e depois continuou tocando na noite paulistana. Iniciou carreira pela gravadora Copacabana no início dos anos 70. Seu estilo musical é conhecido como "samba jóia", ao combinar o samba tradicional com piano e arranjos românticos e jazzisticos. Seu primeiro disco "Benito Di Paula" de 1971, foi censurado por trazer a música "Apesar de Você" de Chico Buarque.

Seu segundo LP, "Ela" também não trouxe grande êxito. Mas estourou nas paradas de sucesso com o terceiro, "Um Novo Samba", onde já aparecia na capa com sua longa barba e cabelos, inúmeras correntes, brincos, pulseiras, etc. O grande sucesso desse disco foi a música "Retalhos de Cetim".



Teve inúmeros sucessos ao longo de sua carreira como "Charlie Brown", "Vai Ficar Na Saudade", "Se Não For Amor", "Amigo do Sol, Amigo da Lua", "Mulher Brasileira". Chegou nos anos 70, a disputar a venda de LPs juntamente com Roberto Carlos, tendo composto muitas músicas para este.

Comandou o programa "Benito di Paula e seus convidados - Brasil Som 75" na TV Tupi. Tem mais de 35 discos gravados, tendo parte importante de sua obra relançada em CD, devido ao sucesso de suas músicas. Chegou a fazer sucesso em nível internacional como no México, Japão, Estados Unidos e principalmente na América Latina.




Teve parte de sua história contada no livro "Eu Não Sou Cachorro Não" do historiador, jornalista e escritor baiano Paulo César de Araújo.

Após 10 anos sem gravar, Benito di Paula lançou, em 2009, pela EMI Music seu segundo CD e primeiro DVD ao vivo, gravado no Vivo Rio, e que traz seus maiores sucessos, como Retalhos de Cetim, Sanfona Branca e Charlie Brown.

Discografia

* 1968 - Andança e Canção Para o Nosso Amor
* 1972 - Beleza Que é Você Mulher - (Copacabana)
* 1972 - Ela - (Copacabana)
* 1973 - Benito Di Paula - (Copacabana)
* 1973 - Um Novo Samba - (Copacabana)
* 1974 - Gravado Ao Vivo - (Copacabana)
* 1975 - Benito Di Paula e Seus Convidados - Brasil Som 75 - (Copacabana)
* 1975 - Benito Di Paula - (Copacabana)
* 1976 - Benito Di Paula - (Copacabana)
* 1977 - Benito Di Paula / Assobiar ou Chupar Cana - (Copacabana)
* 1977 - Jesus Papai Noel - Instrumental - (Copacabana)
* 1978 - Benito Di Paula - (Copacabana)
* 1978 - Caprichos de La Vida - Copacabana)
* 1979 - Benito Di Paula - (Copacabana)
* 1980 - Benito Di Paula - (Copacabana)
* 1981 - Benito Di Paula - (WEA)
* 1982 - Benito Di Paula - (WEA)
* 1983 - Bom Mesmo é o Brasil - (WEA)
* 1984 - Que Brote Enfim o Rouxinol Que Existe Em Mim - (RGE)
* 1985 - Nação - (RGE)
* 1986 - Benito Di Paula / Instrumental
* 1987 - Quando A Festa Acabar - (Copacabana)
* 1990 - Fazendo Paixão - (BMG Ariola)
* 1992 - A Vida Me Faz Viver - (Copacabana)
* 1994 - Pode Acreditar - (RGE)
* 1996 - Baileiro - (Paradoxx Music)
* 1999 - Raízes do Samba
* 2009 - Ao Vivo - (CD e DVD) (EMI Music)

Coletâneas

* 2002 - Perfil - Benito di Paula (Somlivre)

O valor da opinião Pública - Por: Dihelson Mendonça


"Um agricultor pobre, a exemplo de todos os outros da sua aldeia, vivia cansado de carregar grandes fardos de feno. Fez isso por muito tempo, até que finalmente decidiu comprar uma mula para que o ajudasse nas árduas tarefas cotidianas, o que logo despertou a inveja dos outros aldeões. Dotado de grande força de vontade, poupou dinheiro por anos a fio, além de diversos outros sacrifícios, finalmente conseguindo o bastante para ir até a cidade grande, onde adquiriu um maravilhoso e corpulento animal como nunca se havia visto por aquelas bandas.

De volta à sua aldeia, passeava contente com a nova aquisição, até que passando por um grupo de pessoas, estas começaram a zombar, dizendo: "Mas que homem tolo, comprou uma mula manca e feia!". Entristeceu-se com as zombarias, mas prosseguiu no seu caminho. Mais adiante, encontrou algumas crianças que ficaram rindo da cor do animal. Ainda mais à frente, encontrou um grupo de senhoras idosas que se puseram a comentar entre si: "Se este homem fosse realmente inteligente, teria poupado para adquirir um trator, ao invés de uma mula".

Ficando visivelmente aborrecido com os comentários do povo, além das muitas galhofas que se seguiram, o agricultor, tomado por um acesso de fúria, levou a mula até o alto de uma montanha e atirou-a num grande precipício, matando o infeliz animal. De volta ao trabalho, continuou com a antiga rotina miserável, carregando no próprio lombo, a carga que antes seria destinada à mula. Não havia ainda caminhado por 100 metros, quando ouviu um transeunte falando para outro:

"Este que aí vai passando, é o louco que foi até a cidade, comprou uma bela mula, e jogou-a no precipício sem motivo algum, preferindo ele mesmo carregar a carga nas costas".

Moral da História:

Nunca dê ouvidos a quem não gosta de ti. Os invejosos jamais estarão interessados no teu bem-estar. O termômetro do nosso sucesso sempre será a inveja dos descontentes."

Autor: Dihelson Mendonça

terça-feira, novembro 01, 2011

Conversas Musicais - Os maiores pianistas da nossa geração

É complicado fazer listas, porque sempre cometemos o equívoco de esquecermos alguém, mas na área de piano erudito, sem dúvida alguma, esses nomes estão na selecta lista dos maiores intérpretes do nosso tempo:

Boris Berezovsky
Nikolai Lugansky
Evgeny Kissin
Lazar Berman
Lang lang

Depois falarei detalhadamente sobre cada um deles. Berezovsky merece o meu respeito quando possui uma das melhores gravações dos Estudos Transcendentais de Liszt, ao lado de Berman. Lugansky possui um domínio bastante bom das sonoridades do instrumento e tem uma qualidade essencial ao músico: equilíbrio. Lang Lang é um pianista controverso, ora eu amo, ora odeio suas interpretações. Entendam, o cara TOCA tudo ( como aliás, todos da lista ), mas o mundo do sucesso e do "super star" lhe subiu demais à sua cabeça chinesa. Lang Lang hoje toca para um público fácil, ávido por espetáculos de técnica gratúita, mas diferente de Volodos, que é impecável e não se rende a esses apelos, ele faz o gênero, se contorcendo todo sem a menor necessidade. Mas é pianista capaz de tocar qualquer coisa, não obstante.

De volta ao lado da seriedade, talvez um dos mais completos da atualidade, ao lado dos dois outros grandes pilares do mundo, que são Marc-Andre Hamelin e Arcadi Volodos, é o Evgeny Kissin, um prodígio remanescente da escola de um Ivo Pogorelich ou mesmo Vladimir Ashkenazy, possui para mim, a técnica mais apurada, os dedos mais ágeis, potentes sonoridades somente antes encontrada em pessoas do nível de um Horowitz ou Arhur Rubinstein, todos russos. Ah! esses russos danados! A escola russa de piano de Yudina, de Sofronitsky, de Emil Gilels é uma das mais belas, mais ricas e que trouxe muita gente boa desde a criação do conservatório de São Petersburgo e dos irmãos Rubinstein no século XIX.

Aqui vemos hoje Kissin tocar um dos mais belos estudos de Scriabin, o Op 8 número 12. Reparem na perfeição das oitavas, na clara diferenciação temática, nas grandes variações dinâmicas e na profunda expressividade que ele arranca do piano, chegando no clímax ao final, como deve ser, aliás, esta fenomenal peça do inigualável Alexander Scriabin:




Por: Dihelson Mendonça