Dedicado a Roberto Jamacaru
Duas e trinta e oito. Canopus já brilhava alta no horizonte.
A passos lentos, uma sombra magra e tardia, range um ferrolho emperrado e poeirento
de um portão vazado e frio, de onde já se espreitam folhas insones e claras,
varridas pelo vento silencioso de uma madrugada de abril.
Um oceano do mais puro azul profundo ostenta safiras, esmeraldas e rubis piscantes
que se empalidecem ante a claridade de uma lua leitosa a boiar esplendorosamente
na imensidão celestial.
Tempo indefinido... levantando a fronte, contemplo aquele microcosmo aureolar
que define tantas verdades invisíveis quanto indivisíveis de seres de luzes tênues, quais pérolas orvalhadas, que descem e habitam almas ternas que mortificam-se em lençóis tão doces e vulneráveis...
Calhas de alumínio luminoso e cumeeiras íngremes arvoram-se em desenhar contornos que ofendem um sudário imáculo de um templo egípcio em ruínas. Uma ou outra ave perdida é avistada deslizando suas asas num jorro de leite cristalizado. E enquanto isso, Reis, príncipes e deusas desfilam para a tela da eternidade as suas glórias, em batalhas de linhas divisórias e imaginárias.
Mas, ante tudo isso, dormem os mortais!
Por sobre a terra, admirava-me a sombra de uma lua cada vez mais ocidental, que toda esparramada e nua pelos céus, esticava assuntosamente as pilastras de uma varanda de conversas longas, sussuros e sorrisos que já não há. Tarde é o tempo, e imprecisos todos os sentidos descritivos das lembranças que fulgem em crer na sua completude, nada é tão inverossímil, funesto e belo, diante do todo daquilo que apenas parece...
Poetas há que desfilam torrentes de gozo ante a via-láctea e suas vicissitudes.
Mas abraçado somente à pequenez de um instante no tempo,
sem que houvesse pobre alma mortal a companheira de verdades,
todo o universo convulsiona em beleza apenas para mim tão somente;
E como um demente, chego a crer por um breve instante, ante tanta perfeição, que posso ser um deus...
...em plena madrugada azul de Abril
Dihelson Mendonça
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quarta-feira, abril 28, 2010
domingo, abril 11, 2010
domingo, abril 04, 2010
Meu Herói Maior ! - Meu Pai...
Vendo uma das poucas fotos tiradas do meu pai, percebo que a cada dia, ele fica mais belo. Meu grande mestre, que ensinou tantas virtudes, além dos primeiros acordes no violão ( que parece ter sido num dia desses ), o meu grande abraço, meu querido amigo! Naquele dia em que nos despedimos, tu me agradeceste, misteriosamente, quando na verdade, tudo o que sou e o que eu sei, devo a ti. Tantas coisas há para serem ditas, tantos poemas para serem escritos e tantas verdades. Mas passei aqui desta vez, apenas para te dizer o quanto te amo. Paizinho, estamos todos vivos e bem. Tu estarás comigo para sempre, até o fim dos tempos, minha alma gêmea.
E aproveito para te dedicar esta música, que tanto gostavas:
E aproveito para te dedicar esta música, que tanto gostavas:
Naquela mesa
(Sergio Bitencourt)
Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava estórias
E hoje na memória eu guardo e sei decor
Naquela mesa ele juntava a gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho, eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doia tanto
Uma mesa no canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala no seu bandolim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Eu não sabia que doia tanto
Uma mesa no canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala no seu bandolim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Dihelson Mendonça
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