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quinta-feira, julho 02, 2020



"Uma das coisas mais importantes que se pode aprender na vida é não dar ouvidos aos idiotas. Ler certas coisas e rir, pois é mais salutar atribuir à ignorância do que à maldade. Melhor ler do que ser cego. Passar, nada falar, relevar, atribuir à idiotice tão patente na humanidade. Afinal de contas, os idiotas tem um raro poder de proliferação muito maior em toda a raça humana. Aprenda a relevar ou será engolido pelo mundo." - Dihelson Mendonça



Em conversa entre dois idiotas, mantenha-se calado ! 

A poesia e a Técnica - Dihelson Mendonça




"Em tudo que se faz na vida, deve-se ter a perfeição como ferramenta e a poesia como meta. Todo trabalho ao final, deve soar poético, ainda que seja profundamente técnico". Dihelson Mendonça

Os amantes - Dihelson Mendonça



Os pingos de chuva batiam com força e escorriam pelo vidro da janela, revelando silhuetas exóticas de pessoas caminhando apressadas, em busca de abrigo, enquanto faróis nervosos de automóveis, em meio à leva cheia, que corria das biqueiras numa manhã fria de inverno, perdida talvez já na imensidão da eternidade. Em nossas cobertas, a preguiça extravasava o seu domínio sobre os mortais, e víamos corpos extenuados de uma longa e terna noite de conversas suaves, onde tudo era novo, tudo era descoberta.

A primeira claridade a anunciar o novo dia atravessava frestas e lustrava porcelanas e estátuas centenárias, causando sombras estranhas e perfumes exóticos de trabalhos deixados ao acaso. Mais um beijo e te deixaria para quem sabe, quando outra vez ? Ouvir Jazz na madrugada regado a um bom vinho, sorvendo os doces sabores, o néctar da vida em sua plena plenitude, de olhos entrelaçados a não precisar exprimir absolutamente nada além da sinceridade dos adultos, sem precisar fugir à realidade, aos temores, e às paixões...

Tempos mágicos em que a descoberta não era além do princípio do prazer, de compartilhar mais que tudo; De viver, assim como se nunca houvera existido vida antes! E a chuva, Ah! a chuva docemente, embalava, junto ao Jazz, o amor entre dois amantes que se admiravam e se descobriam num imenso jardim. Jardim que só os amantes é que viam e desfrutavam...

Dihelson Mendonça
13/11/2013

O PROCESSO DE IDIOTIZAÇÃO DA ARTE



O problema é que os medíocres estão dominando o mundo, enganando as pessoas e se enganando, achando que sabem de alguma coisa, quando na verdade, são principiantes e leitores de orelhas de livros. E a mediocridade, a massa de manobra, por não ter o devido grau de conhecimento e acesso à grande Arte, e ao processo educacional correto, endeusa a horda de imbecis que sobe ao banquinho que Carl Marx esculpiu para a plebe rude, aliás, porque mediocridade atrai mediocridade. Veja por exemplo em fotografia; Qualquer idiota hoje, entra numa loja, compra uma câmara fotográfica, aprende a apertar um botão e sai da loja se achando um "fotógrafo" inato, sem entender ao menos os princípios básicos e técnicos que regem a arte, sequer a regra dos terços, sequer as técnicas de enquadramento. Na música, idem ou ainda pior! E assim, estamos chegando a um ponto sem retorno no processo de degeneração e de idiotização da sociedade, em que a arte tem um papel preponderante. Ao povo, embalado pela pseudo-arte criada por pseudo-intelectuais leitores de jornais, bancados por instituições corruptas e pessoas igualmente medíocres sem qualquer grau de instrução artística, especialistas apenas em Pão e Circo, e de outro lado, a massa, entre o caos e a ignorância, sem saber mais separar a Arte verdadeira da FRAUDE. Como já disse o grande Fernando Pessoa: "O fim da arte inferior é agradar, o fim da arte média é elevar, o fim da arte superior é libertar." Estamos vivendo a fase da Pesudo-Arte, formada por Pseudo-Intelectuais e Pseudo-Seres humanos.

Dihelson Mendonça
07-12-2013

A IDÉIA DE DEUS E O MEDO HUMANO




"Quem ama a Deus por temor, não ama de verdade" "Nem quem ama por respeito". Porque o amor é natural, ele nasce do coração das pessoas, não se submete à razão. Não se chega a Deus através de um processo racional tal como a conhecemos, mas unicamente através da fé. A fé é uma singularidade dentro do universo racional, e somente pela negação da razão, ou compreensão de uma outra razão contida num universo que se opõe à esta realidade imediata é que se percebem verdades ocultas, dentre elas algo incognoscível à mente humana, que chamamos de Deus, Tempo, Vida e Morte. É impossível compreender a mente de Deus, assim como é impossível a um rato compreender o pensamento de um homem. Mas é possível perceber "traços" da sua existência espalhados pelo cosmos, porque nossa mente, embora rudimentar, possui a percepção da órdem universal das coisas. E o acaso, que seria a inexistência, a falta de de uma estrutura, é a exata oposição à uma órdem.

Dihelson Mendonça

Triunfos


https://blogdocrato.blogspot.com/2010/08/triunfos-por-dihelson-mendonca.html

terça-feira, junho 09, 2020

Lembranças de um Crato que não volta mais - Por: Dihelson Mendonça



"Era um tempo muito bom, muito diferente de hoje. A vida era mais tranquila, os costumes eram outros. Havia mais respeito e educação entre as pessoas, que se cumprimentavam. Não existia violência nas ruas, nunca se ouvia falar em assaltos...a gente poderia andar tranquilamente para qualquer lugar da cidade, se divertir, ir à festas...voltar de madrugada, e ninguém sabia o que era assalto. 

Claro que não tínhamos as comodidades de hoje, como a internet, celulares, mas a gente não sentia falta. Existia TV, Rádio, Telefones, que faziam chamadas DDD e DDI ( Isso já nos anos 70, que a gente chamava de interurbano. Antes, era com auxílio da telefonista. A cidade era silenciosa de tal forma, que se alguém ligasse um rádio, daria para ouvir em todo o quarteirão. Éramos revestidos de natureza, íamos tomar banho nos pés de serra, na cascata, no Serrano, na AABEC, nas grotas, nas fontes que brotavam da Chapada do Araripe...oh tempo bom !

E não sei se vocês alcançaram...ali onde fica hoje a Caixa Econômica Federal, na esquina da Rua Santos Dumont com a Mons. Esmeraldo, havia uma ( Pasmem ), Fábrica de biscoitos ( A GESSY ), e o cheiro dos biscoitos perfumava as ruas do centro do Crato de forma indescritível. A fábrica tinha as laterais vazadas, e quem passava, via imensas esteiras rolantes e barulhentas, máquinas enormes, e milhares de biscoitos deliciosos nessas esteiras. Toda criança queria entrar lá, mas haviam grades. Ali na rua Almirante Alexandrino, que vai dar lá no hotel Tabajara, não havia ainda essa rua da HONDA para o canal, era tudo um imenso prédio onde funcionava uma fábrica de óleos vegetais ( A SINBRA, se não me engano ): Fabricavam o Óleo Crato, que era bastante considerado, e mais dois outros, cujos enormes desenhos das latas, estavam estampados na parede externa da fábrica, próximo à residência dos Arraes. A fábrica era enorme e tinha uma chaminé altíssima que dava para ver nos céus do Crato.

Tenho tantas recordações daquele tempo, em que ainda não existia a estação rodoviária, os ônibus paravam na Rua Nelson Alencar, principalmente os da Viação Rio Negro, que faziam a linha Crato-Fortaleza, que por sua vez, concorriam com a viação Rápido Juazeiro, do mesmo proprietário: Raimundo Ferreira. Os ônibus que iam para São Paulo, da Expresso Real Caririense ( ERC ) e Viação Varzealegrense paravam ali próximo ao restaurante Guanabara ( O Neném ). Eu fui uma vez para São Paulo no ERC, levou 3 dias para chegar, ( rs ), mas a viagem foi cheia de beleza.

As ruas eram cheias de gente, as feiras, enormes, vendia-se de tudo. Ela se espalhava por boa parte do centro. Dia de feira, ( segunda ), era o dia de vir ao Crato, porque aqui era o centro dos negócios, o centro de tudo, de comércio, de indústrias, de hospitais bons, maternidade...o cariri nasceu aqui. Tinha matuto que vinha só para admirar o prédio do Banco do Brasil...rsrs . Nos domingos, casais flertavam nas praças da cidade, principalmente na Siqueira Campos, e na Praça da Sé. Havia mais comunicação, as famílias eram mais próximas, iam à igreja e depois, as praças ficavam abarrotadas de gente.

A vida doce do cratinho de açúcar se perdeu em alguma veia da história, uma vida que quem viveu, há de lembrar para sempre. Um tempo bom, um tempo feliz, que não volta mais."

Por Dihelson mendonça
BLOG DO CRATO


COLORADO RQ - De volta aos anos 70 - Por: Dihelson Mendonça


Alguém aqui viveu nos anos 70 ? Muita gente. E quem não se lembra quando a TV chegou ao Ceará e ao Cariri ? Eu tinha 4 anos de idade em 1970, e morava na vizinha cidade de Farias Brito. Por essa época, o maior comerciante local, chamado Antonio Leandro, começou a vender aparelhos de TV. Existiam lá basicamente dois modelos, o velho Colorado RQ, e o TV PHILIPS Planar.

Meu pai, que sempre foi uma pessoa muito entusiasmada pelas novas descobertas, comprou o segundo aparelho de TV da cidade, sendo que o primeiro ( claro ) era do dono da loja. E enfim, chegou o nosso philips planar em preto e branco ( colorida nem se falava ). Acontece que naquele tempo, a televisão "pegava" com sistema de repetidoras. Vinha por várias estações repetidoras desde Fortaleza até o Cariri ( não é como hoje, que vem via satélite ). Existia então, uma estação repetidora na Serra do Quincuncá, da antiga TV Ceará Canal 2, e funcionando com gerador a óleo diesel, só era ligada à tardinha, e desligada lá pelas 22 horas. Teve até um caso do último capítulo da novela "A barba azul", em que faltou o óleo, e um comerciante da cidade foi quem forneceu., o que ganhou a simpatia da população.

Foi através dessa TV, hoje rudimentar, que nós tivemos nossos primeiros contatos com o mundo "civilizado". Seriados como "O Túnel do Tempo", "Viagem ao fundo do mar", "terra de gigantes", e o clássico "Perdidos no Espaço". Parece até que estou vendo a sala lá de casa, com 50 crianças sentadas em qualquer lugar, assistindo Roy Rogers, Durango Kid, Hospitalouco, A feiticeira. Por essa época também, chegaram as primeiras geladeiras da era moderna, Consul, e o que não faltava na cidade, eram placas de "Vende-se Din Din". Era moda, tinha gente que colocava uma placa de "Din din" só pra dizer que tinha geladeira nova. Telefones na cidade ainda não existiam ou eram muito poucos, o contato com o mundo externo era feito via Rádio-Amador, que enviávamos recados, mensagens para parentes mundo afora, além dos correios, que eram de altíssima credibilidade. Ah! quando o carteiro passava, era uma festa na rua.

As estradas que ligavam Farias Brito ao Crato eram quase intrasitáveis no inverno, estradas carroçais, e haviam algumas maneiras de se vir ao Crato, como pelo "Rápido Crateús", ou pela "Viação varzealegrense", ou ainda pelo misto de "Seu Orlando", que ficava estacionado na praça principal. Quando alguém ficava doente e precisava de urgência, iam acordar o Antonio Sales, que possuía um Jeep, era muito eficiente, e atendia a cidade toda. Hoje Antonio Sales é proprietário de uma beneficiadora de arroz aqui em Crato, ali na Rua dos Cariris. Uma excelente pessoa. Aliás, quantas vezes eu não vim doente para o Crato nesse bendito Jeep do Antonio Sales ? Lembro-me de uma vez, muito criança, de colo, em que eu abri os olhos para o mundo. Primeiro foram os sons. Alguém dizia: "Ele tá tornando!" outro comentava: "Ele vai se acordar". O caso é que quando abri os olhos, haviam dezenas de pessoas cercando a cama e me olhando. Uns diziam que eu tinha "dado uma agonia" ( desmaio ), e já outro dizia: "é melhor levar logo pro Crato". Foi nessas idas e vindas ao Hospital São francisco de Assis, que acabei conhecendo o Crato, meus tios vieram morar ali na Cel. Luiz Teixeira, lá no alto do seminário, de onde se via boa parte da cidade baixa.

Aqui no Crato, o sistema de televisão no início dos anos 70 era também muito semelhante. Existia uma torre repetidora ali no Alto do Seminário, defronte ao seminário São José, que transmitia o Canal 10 ( TV verdes Mares ) para toda a cidade.

Mas televisão era um negócio muito caro para a classe pobre. Pobre sempre foi pobre, em qualquer lugar do mundo. Para facilitar as coisas, os prefeitos das cidadezinhas como Farias Brito, inventaram a tal da TV pública. Um aparelho de TV era montado em cada praça da cidade. lembro-me ainda do dia em que estavam montando a TV pública em Farias Brito, que ficava na esquina aonde hoje é a prefeitura. Ali, o calçadão não existia, e as pessoas ficavam assistindo da esquina da praça. Todo fim de tarde, um encarregado ia abrir o cadeado da caixinha de metal que abrigava a TV das chuvas, abria as duas portinholas e ligava a TV para o povão assistir as novelas. E que novelas boas as daquela época: Tinha "A barba azul", com Eva Vilma e Carlos Zara, que era sucesso, e tantas outras.

Na cidade, um dos maiores divertimentos era quando chegava a época da política. Os Fariasbritenses devem se lembrar das clássicas disputas entre Aurélio Liberalino de Menezes, e Gabriel Bezerra de Morais ( Seu Bié ). Meu pai era o encarregado da CAENE ( Companhia de Águas e Esgotos do Nordeste ), que depois virou CAGECE, e minha mãe trabalhava na prefeitura de Farias Brito na época do Bié. Eu estudava no Grupo escolar Getúlio Vargas ( estadual ), e competíamos com o Colégio Municipal, porque quem estudava no "estadual" tinha bem mais status que o "municipal". Meus tios ainda estudavam no Ginásio Enoch Rodrigues, instituição de bastante respeito na cidade.

Mas afinal, porque eu estou relatando todas essas coisas ?

Porque ao ver esses folhetos aqui de propagandas de lojas como a Zenir, Americanas, com computadores a preços populares, comecei a pensar cá com meus botões: A história se repete : "Um computador para cada casa". Vamos chegar em breve a um tempo em que haverá um computador ( e vários ), para cada residência. Lembranças dos anos 70, em que dizíamos: Um dia haverá uma TV em cada casa, e não tardou a acontecer. Estamos para o computador hoje, como a TV estava para os anos 70. Só que a velocidade com que a tecnologia se desenvolve hoje é estonteante. Um produto que se compra hoje, daqui a 6 meses está obsoleto, enquanto naquela época, se comprava uma geladeira por exemplo, para o resto da vida.

E aqui eu paro para pensar se de fato, a tecnologia melhorou muito nossa qualidade de vida ou não, pois mesmo quando não tínhamos toda essa parafernália de coisas eletrônicas, em nossas casas, parece até que éramos mais felizes, tocava-se na vida com os dedos, valorizava-se mais o trabalho, a dignidade, havia um senso de responsabilidade, de honestidade, de ganhar o pão com o suor do rosto, as famílias se arrumavam e iam todos à missa aos domingos, e depois às festas da cidade. As praças eram cheias de crianças brincando, correndo, havia música em toda parte, e o mundo era um lugar bem mais seguro de se viver.

Bom, mas eu ia escrever sobre uma coisa, e acabei escrevendo sobre várias outras coisas, tantas, que acho até que a crônica acabou se tornando melhor. Mas eu não sou nenhum Emerson Monteiro, Zé Flávio Vieira, ou Antonio Morais, sou apenas um reles cronista dos minutos livres. E por sinal, já vai começar o noticiário da CNN, com as últimas do Japão...

Pensando bem, estou ficando velho...sabe qual é a diferença entre você ter 15 anos e 45 ? Nenhuma. A única diferença é que o tempo passou, e muita coisa boa ficou pra trás. Mas em qualquer tempo, podemos ser felizes com tudo aquilo que temos, já que a única coisa que verdadeiramente temos sabe o que é ? A nossa vida e as nossas recordações. O resto...é o resto.

"Os nossos comerciais, por favor !"
( dedicado a Flávio Cavalcanti - Rei da Televisão )

Por: Dihelson Mendonça

E você conhece a Hora do Suicídio em Crato, meu Filho ? Conhece não, é ? - Dihelson Mendonça


Essa história ou estória eu ouvi contar várias vezes, viu? Como diz o cumpade Zé Lezin: num é "mentira" nem é "fricção". "Num é eu querendo me Gambá, mas moléstia à parte"...

Quem viveu no Crato nos anos 70, acompanhou o surgimento da TV a Cores, uma invenção do outro mundo pra época, e se poderia assistir ao programa do Sílvio Santos, sempre aos domingos. Mas é claro que era domingo, porque o Sílvio Santos só fez programas no dia de Domingo. E este especial dia da semana, era aquele dia da faxina geral na casa, do tempo em que se lavava o piso com uma mangueira de manhã, e passava a tarde encerando com cera Cachôpa. Quem tinha enceradeira ( esse era um utensílio muito chique da época ), usava. E quem não tinha, engrossava os braços de tanto esfregar o chão. Existia uma moda no Crato de um tal dum cimento vermelho que era uma coisa incrível. Só servia pra duas coisas, esconder mancha de sangue e escorregar em cima do tapete pra quebrar o braço.

Eu era criança nesse tempo ainda mais do que hoje, e me lembro de pessoas me chamando pra sentar num pano de chão, a fim de que as pessoas pudessem sair arrastando pela casa, com preguiça de passar o pano... Mas isso não tem absolutamente nada a ver com a história que eu vou contar agora pra vocês!

Pois bem, nos anos 70, os Domingos no Crato pareciam aquela coisa de Mexicanos em filme de Faroeste: O sol quente, com todo mundo dormindo. Pense num sol quente! Você passava ali na Rua Pedro II, e só via os pés pra cima do povo dentro das casas, das redes... dava até pra saber quem tava com as unhas compridas, parecia galinha em dia de matança. E tinha umas casas de gente assistindo o dia inteiro o programa de Sílvio Santos. Não tinha mais nada pra se fazer na cidade. Porcaria nenhuma.

Na Rua Almirante Alexandrino, pra quem morava lá na frente da oficina de Paulo Barbosa, olhava dali da Escola Francisco Zé de Brito ( Ali onde hoje o quartel da PM ), pro lado do Tabajara Hotel as 2 horas da tarde, você não via uma alma na rua. Nem viva e nem Morta. Só dava pra ver o mormaço quente do asfalto subindo...Só um ônibus da viação Varzealegrense ou da Rio Negro passava de vez em quando, porque a agência, pra quem se lembra, era ali na Rua Nelson Alencar. E a coisa só ia piorando...piorando... E tome tristeza, até que de noite essa solidão, esse desamparo e até essa mortidão já ficava insuportável.

A morgação era tanta, que se espahou um boato de que Antonio Vicelmo da "Rádia" Educadora tinha dito que no Dia de Domingo em Crato, às 6 horas da tarde era a hora do suicídio, porque dava um desespero tão grande na gente, em saber que o Domingo foi um dia que não existiu no calendário, e saber que já tinha de dormir cedo pra se acordar pro trabalho no dia seguinte.

Mas, apesar dessa tristeza que existia, tinha também alegrias nos anos 70. E para muitos, essa "morgação" também era um sinal de PAZ, de estar de bem com a vida, pois o mundo era um lugar mais tranquilo de se viver, e guerra era coisa lá do "estrangeiro", que a gente só ouvia falar na BBC de Londres, nas ondas curtas do Rádio, ou numa raríssima transmissão de TV via satélite, que naquela época, era a coisa mais cara que poderia existir. A coisa era tão de um jeito, meu filho, que quando alguém recebia um telefonema do Rio de Janeiro, o Crato todo ficava sabendo e o sujeito virava celebridade. Ééeééé.....

Quem não se lembra da Farmácia PASTEUR, que muita gente entrava lá só pra se pesar ? Confesse, meu filho que você já entrou pra se pesar lá. A balança da Pasteur era uma atração na cidade, assim como as fontes luminosas e tomar um sorvete lá no Bantim. Quem não se lembra do Bar Social, do Itaytera Clube ( que eu soube agora que está exposto à venda por 1 milhão e 500 pra quem quiser ). Quem não se lembra do Grande Hotel, do Redondo, e de tantas coisas maravilhosas que hoje o Crato não tem mais !

De qualquer forma, ainda que no Domingo, 18:00 continue sendo no Crato, a Hora do Suicídio, eu dou graças a Deus por ter vivido em uma época em que não havia essa violência de hoje, não tínhamos essas tecnologias, essa modernidade, internet, mas de certo modo, como diz a música, todos éramos felizes e não sabíamos. Como diria o véio Odorico Paraguaçu, "Talqualmente a hoje".

É hora de notícia, Cariri !

Por: Dihelson Mendonça
 

Na Foto: Dedicado a Antonio Vicelmo, um dos meus grandes amigos e inspiradores, que nos bons tempos da Rádio Educadora, apresentava o "Show de Besteira" no sábado, programa excelente, que infelizmente não existe mais porque agora a Rádio é mais de "reza". Mas seria muito bom se esse programa voltasse.