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quinta-feira, julho 02, 2020

Os amantes - Dihelson Mendonça



Os pingos de chuva batiam com força e escorriam pelo vidro da janela, revelando silhuetas exóticas de pessoas caminhando apressadas, em busca de abrigo, enquanto faróis nervosos de automóveis, em meio à leva cheia, que corria das biqueiras numa manhã fria de inverno, perdida talvez já na imensidão da eternidade. Em nossas cobertas, a preguiça extravasava o seu domínio sobre os mortais, e víamos corpos extenuados de uma longa e terna noite de conversas suaves, onde tudo era novo, tudo era descoberta.

A primeira claridade a anunciar o novo dia atravessava frestas e lustrava porcelanas e estátuas centenárias, causando sombras estranhas e perfumes exóticos de trabalhos deixados ao acaso. Mais um beijo e te deixaria para quem sabe, quando outra vez ? Ouvir Jazz na madrugada regado a um bom vinho, sorvendo os doces sabores, o néctar da vida em sua plena plenitude, de olhos entrelaçados a não precisar exprimir absolutamente nada além da sinceridade dos adultos, sem precisar fugir à realidade, aos temores, e às paixões...

Tempos mágicos em que a descoberta não era além do princípio do prazer, de compartilhar mais que tudo; De viver, assim como se nunca houvera existido vida antes! E a chuva, Ah! a chuva docemente, embalava, junto ao Jazz, o amor entre dois amantes que se admiravam e se descobriam num imenso jardim. Jardim que só os amantes é que viam e desfrutavam...

Dihelson Mendonça
13/11/2013

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