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sábado, agosto 15, 2009

Reflexões sobre a Ineficácia do modelo cultural do SESC/ BNB frente à Mídia


Olá, Amigos,

Esta é uma mensagem de reflexão sobre a eficácia/ineficácia dos métodos usados para divulgação cultural por parte do BNB, SESC e algumas secretarias de cultura. Desejo de antemão parabenizar todas essas entidades, que fazem um trabalho único em prol de uma sociedade pensante e de divulgação cultural.

Como é sabido por muitos, o Banco do Nordeste do Brasil, através dos seus Centros Culturais têm promovido ao longo de muitos anos, excelentes shows e eventos culturais simplesmente magníficos. Bem como o SESC, a Secult, e alguns mais. Por exemplo, estou acompanhando ativamente o II Festival BNB da Música Instrumental, um evento gigantesco, que reúne simplesmente "a nata" da música instrumental do Nordeste. O Sesc também tem se empenhado ativamente em uma interminável série de eventos culturais.

Minha preocupação e meu alerta é que, como observador do "modus operandi" da mídia e seus comparsas, o método de divulgação cultural empregado pelo BNB, SESC e afins é quase que totalmente ineficaz, senão vejamos:

Em Crato, terminou hoje, a famosa EXPOCRATO, evento anual promovido pela prefeitura Municipal e apoiado pela iniciativa privada que toma conta do setor de shows. Aconteceu este ano que o II Festival BNB de música instrumental coincidiu com a Expocrato.

Aconteceu que a iniciativa privada criou uma grande campanha na mídia para divulgar seu evento, e os shows terríveis de bandas de forrró podres, se realizaram, como em todos os anos anteriores, em palcos enormes ao ar livre, onde a população pode ter acesso. Estima-se que a cada noite, cerca de 30.000 a 50.000 pessoas tiveram contato, e foram levados a conhecer, incentivados a gostar e passar a ser apreciador da degradação cultural que foi divulgada, promovida e incentivada pela ExpoCrato.

Metodologia diferente dos eventos do Sesc e BNB, onde os shows aconteceram em ambientes fechados, onde 40 ou 50 pessoas ( por show ) assistiram aos eventos. Ou seja, eu acho que estamos perdendo a batalha, não por falta de boa vontade nem de investimento, mas de metodologia. Precisamos urgentemente rever esses conceitos e métodos. De que adianta promover um mega-evento desses, caro, pagar bem aos músicos e quase ninguém comparecer?

"De que adianta acender uma lâmpada e escondê-la debaixo de uma cama?"

Porque se sabe que ao se criar uma sala de espetáculos e anunciar que ali vai haver um Concerto, só vai a esse evento quem já gosta desse tipo de música. Dizendo diferentemente, só vai assistir aos eventos do BNB e do SESC, as pessoas que já gostam desses estilos, ou os amigos dos executantes. Talvez, raramente , uma pessoa aqui e acolá passem por curiosidade para ver o que está havendo ali...

Será que não seria mais interessante que o BNB, o SESC e a SECULT promovessem certos tipos de eventos ao Ar livre onde a população , a MASSA pudesse ver e assimilar ? Que tal se o BNB se associasse aos governos municipais a fim de realizar parcerias sempre visando grandes espetáculos ao ar livre? Já que Maomé não vai à montanha, que a montanha vá a Maomé !!! Já imaginou se esse festival de música instrumental fosse realizado em uma Mega-estrutura ao Ar livre em cooperação com o poder municipal ? Quantas pessoas veriam o evento? 30, 40 , 60 como hoje ?? Não, eu lhes digo, levaríamos 10.000, 20.000 ou mais pessoas , se também investíssemos na mídia em publicidade! Um dos fatores mais importantes no processo de aculturação é o tempo de exposição. Por exemplo, porque somente aproximadamente 3 a 5% da população gosta de Jazz e de música Clássica? Porque elas não tem acesso a esse tipo de música. Nem o rádio nem a TV tocam esse tipo de música. Então, como as pessoas irão gostar de uma coisa que nunca ouviram ? Eu não posso culpar as pessoas por gostarem de Bruno e Marrone nem de Aviões do Forró, porque é somente isso que eles estão recebendo! Eles não conhecem outra coisa. E as entidades que deveriam fazê-las conhecer outras realidades, estão elitizadas, certas pessoas tem até medo e vergonha de entrar num auditório para ver um show de arte. Sempre me vem a preocupação de que a maioria das pessoas não está sabendo do que acontece dentro dos auditórios do BNB. Tenho procurado através de meus vários websites, divulgar, convidar pessoas a comparecerem aos eventos do BNB, mas isso ainda não é suficiente.

Há muito tempo, alguém suficientemente inteligente, descobriu que o método de divulgação boca a boca não era muito eficaz e para isso inventou a IMPRENSA. Há muito tempo, a indústria da mediocridade, que propaga a degradação da arte observou que haveria de fazer parceria com a MÍDIA. Pois é tempo de acordarmos e assimilar esses métodos. É interessante como se pode aprender com as táticas do inimigo. É interessante observar como o "SomZoom" soube inteligentemente investir num satélite para propagar o seu madito forró para os 4 cantos do Brasil. Quem tem a mídia tem o poder. E quem tem a mídia É o poder. Vejam vocês quem são os proprietários das estações de rádio do Brasil? Os políticos.

Então, eu acho que é tempo de criarmos o que eu chamo de "A CORRENTE DO BEM", onde Artistas, produtores, autoridades esclarecidas, pessoas de bem em geral, possam se integrar a esse grande movimento, procurar soluções mais eficazes para contra-atacar a ignorância que vem ganhando terreno nessa luta desigual. Não devemos nos confinar aos gabinetes, nem aos auditórios. Imensas somas são gastas ineficazmente, ou elitisticamente, quando poderíamos ganhar as ruas e conquistar mais pessoas.

-> A não ser que eu esteja enganado, e o propósito seja a manutenção de uma cultura elitista!

Devemos arrumar formas de ganhar as ruas. A Arte e a Cultura PRECISAM URGENTEMENTE sair de dentro das 4 paredes dos auditórios e passar a se apresentar em praças públicas, onde aí sim, levaremos cultura ao camponês, aos jovens, e à todas as pessoas que ainda não foram consumidas inteiramente pela indústria da mediocridade. Os eventos do BNB e SESC são magníficos e mais e mais pessoas precisam conhecer e apreciar! Levemos os artistas aonde o povo está. Na praça! Ou aceitemos que essa guerra já está perdida! Pensemos com carinho acerca desses dados preocupantes, e que me chega a tirar o sono!
Aguardo comentários.

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Dihelson Mendonça - Julho de 2007

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