"Em pleno Junho, um garoto que não tinha ainda 14 anos, andava pelas ruas estupefato, olhando para o céu com uma espécie de disco de papel giratório por entre as mãos, reconhecendo estrelas, planetas, perscrutando com a agudez da sua mente ávida de conhecimentos, os segredos do universo visível. E tudo aquilo, de repente, lhe pareceu novo; Azul profundo é a cor da beleza singular. Sírius e Canopus brilhavam mais em seus olhos que na abóbada celeste, e sentia o frêmito das ondas eletromagnéticas a lhe atravessarem o peito junto ao frio dos ventos de inverno. Ansiava por inventar o rádio com Marconi; Bolsos cheios de transístores, imãs e sonhos de adolescente, assim ladeava o canal do Rio Grangeiro de ponta a ponta, enquanto transeuntes se admiravam com uma figura magra, esguia, de um jovem tímido, de aparência doentia que se alimentava mais de idéias de ciência do que da comida caseira. ...Não era incomum. Era apenas um garoto que a exemplo de muitos, enxergava um mundo pictórico, enquanto Bach, Chopin e Scarlatti tocavam dentro da sua cabeça sem parar"
Dihelson Mendonça ( Memórias )